quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Eu sou uma alfacinha nascida com muito orgulho na Maternidade Alfredo da Costa. Foram as ruas de Lisboa que me viram durante a minha infância, e foram os centros comerciais e as salas de cinema que presenciaram a minha entrada na pré-adolescência.Quis a vida no entanto mostrar-me que há mais para ver do que a cidade de Lisboa, e quando dei por mim, já a vida me tinha arranjado uma casa numa aldeia do distrito de Santarém. 
A verdade é que a adaptação à minha nova vida não foi fácil, uma vez que quando não estamos abertos à ideia de mudança prendemo-nos num passado que já não existe, e perdemos um presente que fica por viver. Eventualmente acabei por me tentar adaptar, se bem que continuava a sonhar com o dia em que voltava à capital.
Uma das tentativas da minha mãe para me converter à vida no campo foi aproveitar a proximidade à Golegã (também conhecida como Capital do Cavalo) para me inscrever a mim e ao meu irmão nas aulas de equitação, o que sempre me pareceu uma ideia deveras estranha, uma vez que o meu irmão é alérgico a cavalos e eu tenho muito medo deles. Mas o Simão muniu-se de anti-histamínicos e eu enchi-me de coragem e lá fomos nós.
O Simão sempre revelou ser um melhor cavaleiro do que eu, mas no final de cada aula era eu quem sentia que tinha acabado de conquistar o mundo. Sentir que conseguia dominar uma égua, entender-me com ela, e conseguir cavalgar era para mim um feito tão grande como escalar o Monte Everest (o facto de me darem sempre a égua mais velha e dócil não abalava a minha auto-estima).
Mas houve um dia em que o medo, que já estava quase controlado, decidiu vir em força,e me deixou de tal maneira assustada, que já nem o sentimento de gratificação no final das aulas me fazia querer continuar na equitação. E desisti.
Por vezes gostava que houvesse um fármaco como os anti-histamínicos para as pessoas que têm medo... algo como um anti-medo, mas qual seria a graça da vida se não tivéssemos um milhão de emoções a todos os segundos da nossa vida?
Nunca mais voltei às aulas, mas sinto-me pronta para voltar a montar todos os cavalos que deixei para trás por ter medo. Porque apesar do medo nos sufocar a mente, sentir que desistimos mata-nos a alma.

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